sexta-feira, 19 de setembro de 2008


MULTI-VITA-MINAS
Fragmentos de Missão - Seis Meses em N’dalatando, Angola, 1997.


MAIO 1997

A primeira missão é como o primeiro amor. Levamos na bagagem fantasias e ilusões, algumas há que praticamos com todo o arrebatamento da paixão, outras ficam guardadas para futuros encontros. No fundo, as emoções dependem mais do namorado que do amor em si.

Foto 1 - O mosquiteiro da cama.


22H – Lisboa: no avião sensação de suave inclinação. Linhas Aéreas de Angola (TAAG) - na cauda já um prenúncio de África: a cabeça de um antílope. As cores são africanas: listas vermelhas e cor de laranja. Tenho 29 anos, é a primeira vez que vou ao continente africano.
5H – Luanda: em tempo de tréguas, a mesma língua, o mesmo fuso horário. Noite pontuada de estrelas. À saída do avião, um bafo temperado, 24Cº. No asfalto, na espera do Bus, o calor já se sente na sola dos sapatos.
9H – Sede da Assistência Médica Internacional (AMI): recados, ofícios, material embalado, a descontracção das pessoas, café, água e a vacina oral. Tudo o estritamente necessário. Cavaquear e ouvir as fofocas dos veteranos em Angola. Passar água pelos ombros e pelo rosto. Água fresca a evaporar de imediato. O meu sorriso para um velho espelho – estou cá!
13H – Cândida, uma moça negra bonita, faz um almoço delicioso! Sopa duas vezes, peixe-espada frito e salada da abacaxi, tomate, cebola madura e doce. Café. Água. Sesta: leitura e música à escolha no leitor de CDs da sala de estar.
16H – Pequenas tarefas a cumprir na baixa da cidade. Aqui as coisas são velhas mas as pessoas jovens. Ruas caóticas: lixo, lixeiras, lixados ... Lagos de águas mortas, fétidas, apodrecidas pelo sol. Disparam um tiro mesmo ao nosso lado, ainda senti a poeira e o picar do empedrado nas pernas. As armas quase invisíveis relembram-me que estas podem estar por baixo de todo e qualquer pano. O som estoirou como bomba ensurdecendo-me a memória. “- Cuidado!”- disseram-me no Porto, mas aqui a palavra evapora-se com o modus vivendi e apenas se vislumbra ouvir “- ui dado!”
Acompanhada pelo meu guia na cidade, o Orlando, fui trocar Dólares por Kwanzas na Feia, uma mulher negra que negoceia câmbios no mercado negro. Impressiona a quantidade de notas que me passam para as mãos e as que se transaccionam por toda a cidade, fora das instituições bancárias. Milhares e milhões que valem menos que meia dúzia de escudos.
Logo após e sempre de uma forma alucinante: obter o visto de trabalho na Embaixada de Portugal, comprar postais na livraria Lello para enviar para o Porto, levantar o bilhete de avião para N’dalatando, levantar material para a missão nos stocks da Delegação de Saúde e fazer compras num supermercado.

14H do dia seguinte – A avioneta canadiana Beechcraft do “World Food Programe” levanta voo do aeroporto “4 de Fevereiro” Luanda com destino a N’dalatando, fazendo escala por Malange e levando-me para uma das aventuras mais importantes da minha profissão como enfermeira. Duas horas após, faz-se a aterragem em pleno coração térreo africano levantando muita poeira e algumas aventuras.
16H – apresentações à equipe em missão e a algumas gentes de N’dalatando. Ao cair da tarde, visita ao Hospital Provincial com a enfermeira Nazaré.


JUNHO 1997

N’dalatando, antiga Salazar - cidade jardim, a cerca de 300Km leste da capital angolana. Meia dúzia de ruas principais com casas de alvenaria recuperadas para as entidades governamentais e internacionais. Em redor bairros a perder de vista construídos com terra para a população local. Sem água potável, sem esgotos, sem transportes e sem electricidade. Um gerador de energia na cidade trabalha por períodos irregulares das 17h às 7h da manhã.

Foto 2 – Capa de uma publicação da ONU no interior do Jeep da AMI
numa rua de N’dalatando.



Não tenho escrito por não ter luz eléctrica à noite no meu quarto e na minha alma. N’dalatando persiste ... no “Far Soud” português... estivemos cá um dia...?! Tal como a selva irrompe sobre qualquer espaço abandonado pós exploração civilizacional, os angolanos irrompem lânguida e timidamente arrasando o império do nada. Ruínas são o que somos por todo o lado, como uma praga. A selva sempre irrompe e refloresce. Por enquanto, os homens continuam mais macacos de galho em galho aqui, como em muitos outros lados, num mundo ainda por cumprir.

A democracia angolana é uma abstracção num absurdo absoluto, completamente irreconhecível na corrupção. Roubar e pedir. Pedir e subornar. Fala-se da máfia sicíliana, fale-se da angolana! Falou-se da guerra na Bósnia, ignorou-se a de Angola. Os estrangeiros parecem espiões, não de fitas de cinema, mas tão próximos como os nossos amigos. Todos os olhares são janelas indiscretas.... Só em N’dalatando, capital da Província do Cuanza Norte ( o que equivale falar em cerca 50 000 habitantes) existem três Organizações Não Governamentais: AMI, Médicos Sem Fronteiras (MSF) da Bélgica, Cruz Vermelha. Há representantes da Organização Mundial de Saúde, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, um representante itenerante do Banco Mundial para além das tropas da Missão de Observação das Nações Unidas em Angola (MONUA) e também cá estão ramos da Igreja Católica. Conhecem-se angolanos com as suas diferentes etnias, suecos, ucranianos, cubanos, vietnamitas, congoleses, belgas, holandeses, ingleses, indianos, franceses, americanos, polacos, chilenos, ... e enfim portugueses. Entretanto, as instituições governamentais vão preenchendo o tempo do cessar-fogo com parasitismo, corrupção e espionagem, enquanto a população “desmoralizada” luta pela sobrevivência dia-a-dia.

As escolas são ao ar livre ao lado de escombros de alvenaria. Passando na estrada, assiste-se às aulas dos meninos da primária, cada um com a sua lata de leite em pó oca e amassada. Esta faz simultaneamente, de pasta para o único lápis e caderno que levam à escola e de banco para se sentarem, quando virada ao contrário sobre o chão de terra.

Não há estação de correios como não há de comboios, apesar dos escombros de ambas. Tudo está baleado, desértico e suspenso num completo abandono.

O Hospital Provincial, que imaginado na sua traça original de nos 60 seria lindíssimo, está destruído e vazio de infra-estruturas, equipamentos e medicamentos. Sabe-se existirem minas nos terrenos em volta. Ninguém se atreve a sair dos caminhos térreos muitas vezes pisados. Os doentes não recorrem como seria de esperar e mesmo assim os serviços de Tuberculose, Cirurgias, Tripanossomíase (Doença do Sono) e Pediatria estão a abarrotar. Um Hospital sem serviço de sangue e raio X, por não haver luz eléctrica. As camas na sua estrutura esquelética, não têm colchões nem lençóis. As janelas não têm vidro e as enfermarias não têm portas. A maior parte dos enfermeiros alterna com o ofício de vendedor na praça de mercado com uma banca de medicamentos desviados do hospital. E a qualquer preço, o mesmo medicamento pode curar como também pode ajudar a matar.

JULHO 1997

Só há uma torneira a funcionar num dos pátios exteriores do Hospital. Mas no serviço de Pediatria não se sente o cheiro fétido das dejecções diarreicas das crianças doentes. As mães usam trapos gastos e rasgados como fraldas. Trapos que nem para lavar o chão nos serviriam. Mas no serviço de Pediatria, sem um único WC, das 8h às 15h não tenho tempo nem sítio, para fazer xixi.

Foto 3 – O menino que veio de Lucala gravemente doente com um brinquedo
oferecido pela AMI no Dia Mundial da Criança.



Na pediatria há: 28 camas, 1 consultório médico, 1 sala de trabalho de enfermagem e 7 enfermarias; 9 enfermeiros, 8 técnicos práticos de saúde, 5 auxiliares de acção médica e 2 vigilantes. Os recursos humanos estão aumentados ao máximo para que estas pessoas possam gozar do apoio alimentar da AMI no final do mês: óleo, sal, arroz e feijão. Na Pediatria eu vejo reflectir-
-se sistematicamente a mesma imagem de fome, ignorância, desespero, corrupção e indiferença perante a morte, que na sociedade civil exterior. Um dia de manhã ao entrar na pseudo-sala de trabalho de enfermagem vejo o enfermeiro subchefe a beber directamente do frasco de Cloroquina Xarope (antipalúdico muito utilizado na Pediatria com sabor adocicado) para enganar a fome. As crianças e seus familiares chegam a percorrer, a pé, distâncias como 50Km’s para procurar ajuda para a sua Tuberculose, Paludismo, Desnutrição Grave, infecção generalizada, Tétano, etc., etc.

Momento de “pânico” na Pediatria: fiquei só, sem apoio médico, durante 13 dias. O Dr. Vicente, médico angolano com quem trabalho, ausentara-se para Luanda. Durante esses dias, das 8h às 15h, trabalhara uma média diária de 15 consultas externas, 30 internamentos e 1 óbito. Consultar, dar medicação, orientar os enfermeiros e os pais. À tarde, repor o material, os medicamentos, os suplementos nutricionais, a água num bidão para o dia seguinte e passar visita às enfermarias, tudo à velocidade da luz.

No final do dia olho para as palmas das minhas mãos. Sinto-as longe de mim, inacreditavelmente longe. Na outra extremidade do meu corpo. Trago as minhas mãos como um continente, nas suas palmas um mapa cuja geografia desconheço ainda. Neste sulco passa um rio. Entre este músculo e aquele, um vale de encostas claras. Uma encruzilhada de caminhos, a confundir qualquer forasteiro. Que faço eu com estes mapas opostos? Que foram eles capazes de fazer por mim, eu que tão inconsistentemente os percorri até ao fim de cada dia?

Aquele pai gago, envelhecido e queimado pelo sol tropical e pelo medo da guerra, trouxe um filho nos braços. Um pedaço de si mesmo, nos seus braços. Fome, sede e doença. Diagnóstico: desnutrição grave pré-choque, malária, parasitas intestinais, tudo. Veio de Lucala a pé com um sopro de vida nos seus braços ( Lucala, terra ocupada pelos guerrilheiros da União Nacional para a Independência de Angola – UNITA: terras assim chamam-lhe o cativeiro ). Quando me fala, prostra as mãos como se fosse rezar ou em sinal de fiel obediência. Fala baixinho e baixa sempre os olhos. O seu menino morreu três ou quatro dias depois quando até já comia a papa de bolacha hiperproteica BP5 que a AMI oferecia. Morreu como todos os seus outros familiares. Só o pai aguenta! Antes de partir para o cativeiro, de onde arriscara fugir com o seu pedaço de esperança, esperou por mim de manhã para se despedir e chorando me agradecer. Assim como ainda aguentava todas as mágoas, não enterrava no seu coração a gratidão e vazio partira para lugar nenhum. Ele conhece bem as palmas das suas mãos como a selva em redor, de tanto que elas andam vazias. A selva que é feita de mato e a que é feita de gente.

AGOSTO 1997

Quanto a N’dalatando, o meu medo agiganta-se! É a Malária. É a Tripanossomíase... São as minas.
Numa tarde, quatro meninos brincavam num terreno “capinado” (com o capim cortado) na véspera, para a construção de mais uma casa, quando deflagra uma mina. Um dos meninos morre no local, o segundo a caminho do hospital, o terceiro no hospital, durante as primeiras horas e o quarto menino, gravemente ferido (amputado de pernas e com uma ferida perfurante no abdómen), morre ao início da noite. Uma mina fatal para quatro meninos.

Foto 4 – Um enfermeiro dos MSF’Bélgica num encontro com um casal de
N’dalatando, no seu regresso das lavras.



Trago os olhos cheios de absurdos. Com um céu repleto de negro, mas furado por estrelas sobre todos estes fantasmas de maxilares sorridentes. Eu já me não sinto! Ando tão mais maquinalmente que as rodas do velho jeep Land Rover, sem bateria e que só anda de empurrão. Ando de empurrão. Pego só nas descidas. Não me falta combustível falta-me acreditar. Angola é o mais duro desafio provavelmente para se ser iniciado nestas coisas de missões humanitárias. Nos países em tempo de guerra, agimos nas situações de emergência, quase sem tempo para pensarmos porque em causa está o salvar vidas dos destroços e despojos das batalhas. Agora em tempo de tréguas, somos impelidos a trabalhar com as sobras, ainda incandescentes dos traumas, mais psíquicos e emocionais que físicos, das guerrilhas recentes e recorrentes. Angola precisa de paz como de professores a trabalhar nas missões em todas as áreas, com o berço da nação: as crianças. E a nação de berço angolana é dúbia de esperança. É uma geração de betão, com nomes como: Calamidade, Infeliz, Terror à Guerra, Ninguém, Dói Alves, Desprezado ou Sofrimento. Estes são os nomes dos meninos e meninas que chegam à Pediatria para desespero do Dr. Vicente e para meu espanto.

Só a vida seduz a morte, persistentemente. São 23H45’, ao longe as vozes de pranto de dezenas de pessoas percorrem os becos da cidade em procissão com um cadáver aos ombros. Tranquilas as estrelas e as cordilheiras rochosas não pretendem questionar. Os deuses dormem enquanto os homens se devoram como cães danados. Pena é que, da mesma poça de lama tenham que na realidade ( e isto não é poesia) comer crianças e porcos, lado a lado. Angola parece não ter futuro, não porque os homens nada mais saibam fazer do que carregar armas nos braços mas porque as suas crianças são fantasmas doentes e envelhecidos.

Os “slogans” angolanos são de esperança?! Espera-e-rança! Muito pior que o mosquito ou a mosca é o homem! E os únicos recursos naturais que esta sombra de país tem, não são os diamantes, o petróleo ou a Palanca Negra , são os sorrisos tímidos e os esgares luminosos de todas estas crianças que apesar de tudo, quando algum rádio transístor a pilhas toca, estas começam logo a dançar...

Em Agosto há rumores sobre a ameaça de guerra. Dois soldados capacetes azuis da MONUA foram a nossa casa identificar o grupo da AMI para numa eventual retirada de emergência, se evacuarem todos os elementos para a capital angolana. Um dos soldados é Josh, um major indiano. Escusado será dizer que escolhi o seu colo, não para ser evacuada porque a ameaça não se veio, felizmente a concretizar, mas porque em tempo de missão o amor também é possível.

SETEMBRO 1997

No mercado de N’dalatando um grupo de rapazes diverte-se passeando roupas extravagantemente pobres mas coloridas. Dois deles trazem os sapatos trocados entre si. É a forma de no grupo se identificarem como namorados. Perguntei a um dos guardas da casa da AMI, porque havia tantas relações homossexuais jovens. Este respondeu que era uma questão de moda. O que os miúdos (rapazes e raparigas) viam nas revistas estrangeiras, copiavam.

Foto 5 – Meninos de N’dalatando.


Josh foi colocado nas Lundas, o “Far Oeste” dos diamantes e da UNITA, passamos a namorar via rádio ou num fugaz fim-de-semana em Luanda. Amor de missão. Amor como um átomo que não se vê mas que se sabe existir para a contenção de tudo o que há no universo. Eu fiquei a sua “polegarzinha” no fundo do bolso da sua farda militar para que estando ele ali em Angola distante ou quando voltasse às montanhas de Caxemira, me pudesse tocar com a sua mão e me namorar. Promessas de amor que se cumprem para toda a vida como receita médica ou melhor ainda, como talismã da sorte para nunca ficarmos sós.

Entretanto, a azáfama no Hospital continua. Numa manhã a Dr.ª Paula (médica da AMI) chama-me ao serviço de Ginecologia para tentar retirar uma sonda de drenagem vesical – algália- que teima em não sair e que não drena, apesar da mulher se contorcer com dores e ter o abdómen muito volumoso. Realmente depois de algumas manobras técnicas próprias de quem retira uma algália, a coisa não funciona. Observei o trajecto de toda a sonda e mesmo junto ao meato urinário da senhora, bem escondido, deparei com um nó cego. Alguém durante a noite fizera aquele nó por curandice, na certa! O nó estava tão apertado que só com uma agulha furando acima do mesmo, a água que segura o balão da algália na bexiga começa a drenar e se consegue finalmente, retirar a sonda. O alívio da senhora foi imediato e o nosso também. Ninguém soube ou quis explicar o nó na algália.

OUTUBRO 1997

Quando regresso a Portugal tudo brilha!
Cega-me o brilho das lâmpadas, das coisas, das casas, das lojas, das pessoas ...

Em Angola, brilhar, brilhar ... só o Sol, o olhar e as memórias de algumas pessoas.

Foto 6 – Cidadãos anónimos de N’dalatando.



Voar sem esforço. Voar com o corpo quieto e os pensamentos desvairados espalhando-se pela paisagem. Enquanto o bimotor encurta a distância entre N’dalatando e Luanda, eu semeio imagens por entre tufos de vapor de água salientes do azul do céu. Imagens do que fora e do que sentira na minha primeira missão humanitária. No meu coração tatuara já Angola 1997 com o sangue de todos os meninos que eu vira curar ou morrer. Em cada nuvem que vai ficando para trás deixo o sorriso, o olhar e o jeito de falar de todos os que viveram comigo durante estes seis meses. Passara seis meses a distribuir multivitaminas num país repleto de crianças com fome e de campos com minas. Passara seis meses a aprender a despir-me dos meus preconceitos, a reconhecer e a respeitar a linha ténue entre a vida e a morte. O bimotor persiste seguro na sua rota de distanciamento. Entre a imensa planície e o firmamento cá vamos nós prosseguindo a nossa verdadeira missão, planando e dilatando os nossos sentidos. Na ideia, os que ficaram a acenar na pista aérea de N’dalatando: Vanda, Paula, Luísa, Lázaro, os motoristas e os outros vizinhos e amigos da pequena cidade. Cada qual com as suas histórias de missão.

Estamos quase a chegar a Luanda. Da planície nasceu um deserto árido de bairros de cimento cinzento. Ruas estreitas que nem sei se um carro pode passar. Uma imensidão de casotos iguais. De repente, destaca-se um quadrado amplo cercado por um muro cor amarelo terra – é o cemitério. Não tem campas enfeitadas, não há flores. As únicas cores vivas que o cemitério tem são de um grupo de pessoas a um canto a enterrar um defunto. Uns vestem preto, outros amarelo, vermelho, azul, verde, laranja, etc. A avioneta baixa a altitude mais e mais devagar, estica as suas patas de metal e borracha para a pista e aterra aos solavancos desajeitadamente mas em segurança. Aeroporto “4 de Fevereiro” novamente, lembro-me bem da primeira vez que cá cheguei em Maio e da sensação quente do asfalto da pista. Nos meus dois últimos dias na capital angolana ainda passeei na companhia de dois médicos ucranianos: o Dr. Slava que trabalhara comigo na Pediatria de N’dalatando e um seu amigo cirurgião pediátrico do Hospital Joshina Machel. Sentada nas traseiras do carro de ambos apreciava a saturada cidade ao som das suas conversas que eu nada entendia. Sensação estranha, essa de estar longe e tão perto da minha língua vagueando por ruas desconhecidas! No aeroporto de Luanda com o Gil (logístico da AMI), os dois médicos ucranianos, uma garrafa de champanhe e mais umas quantas lágrimas, fez-se a despedida.


Publicado no Livro da AMI: "Histórias para Não Adormecer 2"

2 comentários:

Mary Lock disse...

Ainda só li a primeira parte do texto e estou estou a achar espectacular!

Tenho de ler depois tudo com mais vagar...

Beijos!

Bety disse...

este texto já me é familiar, mas adorei reler de novo... o que é bom não cansa, e leva-nos a viajar sempre envolvidos num grande prazer com muita paixão à mistura e aventura clarto!!...adoro beber as tuas palavras perfumadas de poesia... adoro a tua forma de escrever e a tua forma de viver, única e especial... simplesmente adoro-te!!